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A resposta está entre nós - negócios

Publicado a 05/01/2011, 11:11 por House Work   [ atualizado a 18/09/2011, 11:09 por House Work ]



Já quisemos ser a Califórnia da Europa, a praia de Madrid e uma Flórida também.


Já sonhámos ser a Finlândia e a Irlanda, imitar a Espanha, formar um enclave do Brasil na Europa e da Europa em Angola. Já suspirámos por uma Nokia, ter uma Google, não tarda será o Facebook. Talvez devêssemos começar a querer ser Portugal. A olhar para as nossas empresas. 
E a aprender com o que elas fazem. 

Nos últimos meses, aqui temos desfilado os exemplos que mostram que Portugal vence - e como vence. A Bial, a Kyaia, a Portucel, aAltri, a Sovena, a Corticeira Amorim, a Renova, o Sapo, aAutoeuropa, a Efacec... Hoje focamo-nos na maior destas, a Jerónimo Martins. Não por elogio, mas por demonstração. E pelo contraste. 

As grandes empresas portuguesas estão à venda. Não por opção, mas por insuficiência de capital. Vem nos livros: com défices externos permanentes, primeiro cresce o endividamento e depois vendem-se activos para pagar essas dívidas. É onde estamos: os capitalistas portugueses já perderam a prosápia dos centros de decisão nacional, só estão a fazer a autodefesa das suas posições. 

O controlo da Cimpor foi vendido a brasileiros, o da Brisa esteve em risco e foi garantido "in extremis" pelos Mello, na Galp o domínio de Amorim é testado por velhos e novos accionistas; o BCP está entre ser angolano ou chinês, oBPI tenta ser Suíça para não ser nem espanhol nem angolano; a PT já vendeu a Vivo (usando metade da receita para a Oi), a EDP irá vender activos para reduzir o nível da dívida. O contexto é igual para todos. E para a Jerónimo - que, todavia, controla o seu destino. 

Em Janeiro de 2008, já se entoavam cânticos à recuperação da empresa, que era então a décima maior cotada portuguesa. Desde ontem é a terceira maior. Passou a banca, as construtoras, a PT e continua nas preferências dos analistas: do Santander, a melhor gestora de fundos de acções em 2009; e da Caixa, a melhor gestora em 2010. 

Há uma história bolsista: 70% do valor da empresa está na Polónia. Foi aí que a Jerónimo investiu no formato que venceria - o "hard discount" em lojas de maior dimensão. Um formato onde a empresa consegue margens operacionais de 7%, mais que o Pingo Doce (ou a Sonae) em Portugal. Não é um milagre nem é uma "bolha": este sucesso tem explicações, das alianças com a indústria local à logística - à "folga" (temporária?) de concorrência. 

A Jerónimo controla o seu destino não apenas porque tem a estrutura de capital dominada pelo accionista de referência e um endividamento razoável. Mas sobretudo porque a sua gestão é competente e surpreendente: Alexandre Soares dos Santos foi o mentor e é a referência da estratégia, da gestão e da ética - e da ética... -, Pedro Soares dos Santos está a provar que é sucessor e não herdeiro, e Luís Palha foi o presidente executivo nestes anos - Palha é um dos melhores gestores portugueses e fez uma execução brilhante dos planos que a empresa ia apresentando. 

A gestão da Jerónimo é uma lição para Portugal. Nunca se refastela no seu sucesso, quer sempre chegar mais longe, é humilde, observa, aprende, é sagaz. Mesmo hoje, na Polónia, onde permanece o risco de um regresso em força da concorrência, para esmagar preços. O que faz a Jerónimo? Está a ocupar o território, crescendo aceleradamente para três mil lojas, antes que os grandes concorrentes "redescubram" a Polónia. 

É também no estrangeiro que está a solução para a economia, mas a partir de Portugal. Não é preciso contratar gurus nem adular cangurus, às vezes basta olhar à volta. Ou abrir os jornais. Portugueses.

Fonte: 05 Janeiro2011  |  11:23
Pedro Santos Guerreiro  - psg@negocios.pt

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